quinta-feira, setembro 14, 2006

O que eu gosto é de reportagens inteligentes

"Antropólogas sem medo. Para estas quatro mulheres, a investigação tem mais sentido quando fazem trabalho de campo". (na "Visão" de hoje, páginas 78 a 80)

Belo pleonasmo. Mas qual é @ antropólog@ que não sonha com trabalho de campo? Qual o sentido de fazer antropolgia sem trabalho de campo?

Estas reportagens da treta irritam-se solenemente, como se a investigação fosse uma coisa de aventureiros e não dependesse, essencialmente, dos recursos disponíveis das instituições a que pertencemos (se tivermos essa sorte e não trabalhemos numa livraria ou num call-center) ou do nosso próprio empenho pessoal (leia-se financeiro).
Não estou a desvalorizar o trabalho das investigadoras citadas (embora de uma, bem se sabe o que vale; mas isso é outra conversa; esse ser que contribui para a visão da antropologia romântica... Enfim, há críticas que persistem, mesmo quando se sai da faculdade), mas não me venham com reportagens tolinhas, e a mostrar que, afinal, as mulheres também têm espírito de aventura, também são capazes e como estas mulheres são diferentes. Houvesse recurso para tod@s e a produção científica portuguesa seria bem diferente, repleta de narrativas etnográficas e diários de campo em cadernos moleskine.
Este tipo de reportagens só me leva a crer que, para a grande maioria, fazer trabalho de campo é ser assim como a sociologia da Maria Filomena Mónica, adepta do "diz que disse ou diz que viu". Infelizmente isso é a norma, mas isso é que é cientificamente dispensável. Dispensável e criticável.

2 comentários:

Pedro Serpa disse...

Inês, não li a reportagem nem costumo comprar a visão mas vou fazê-lo: a perspectiva de ver quatro mulheres Indiana Joan's agrada-me sempre.

inesinho disse...

Se estás à espera de Lauras Crofts vais ficar desapontado... :)