I'm not a sport person e muito menos tenho paciência para as conversas de ginásio. Ainda que tenha conseguido parar à turma de hidroginástica mais revolucionária e reivindicativa de sempre, já não suporto que as velhinhas me falem da injustiça de não haver uma aula à sexta-feira, quando se paga o abuso que nos cobram, sendo sempre chateadas por sms das novidades do ginásio. Também evito olhar para a cara dos instrutores, porque não me apetece sorrir ou o confronto directo de assumir o sofrimento que é fazer um abdominal. Portanto, ainda mais desconfio quando o treinador de natação faz conversa no final da aula, e continua a teimar ser social quando já bebo o meu cafezinho fora da água. Não tenho um metro e noventa, não tenho as pernas da Estella Warren, nem fico como ela de fato-de-banho de natação. Ainda mais há o pormenor da toca, a espalmar a testa e a articulação, e sendo eu branquinha e bastante bochechuda, fico mais parecida com um peixe com cabeça e cor de tomate, com uma toca preta. Também não sou nenhuma campeã olímpica, conheço as minhas limitações, e não tenho qualquer pudor em me recusar a fazer determinados exercícios ou aldrabar sempre, só nado de costas, quando devia ter feito mais duas pistas de crawl. Também não devo radiar inteligência suprema, porque se a tivesse, assumia a minha condição de mulher doente asmática, não tinha ido na conversa da "benesse" do protocolo entre a faculdade e o ginásio pornográfico, e continuava em casa, a ler os meus livrinhos, a poder dormir de manhã, a dedicar-me à meditação grátis, onde as palavras "yoga", "pilates", "body-balance" eram conceitos vagos e pouco explorados. Enfim, o que quero dizer, é que não percebo porque raio há seres verdadeiramente profissionais do engate de circunstância, sem qualquer critério de escolha, onde tudo o que vem à rede é peixe. E ainda menos percebo, quando fora dali, já mais vestidinha, penteadinha e cheirosa, com alguns trapinhos e acessórios que assentam melhor, sou perfeitamente desprezada, ignorada e despercebida.