Quem já viu Beck, ontem não o reconhecia. E eu não o vi, nem uma, nem duas, mas sim, sete vezes. E o que me faz continuar a gostar dele ao fim deste tempo todo, é precisamente a sua capacidade de mudar, de improviso e sempre tão bem. Como outros senhores do coração, os Radiohead, já tem mais do que bagagem de fazer o concerto que bem entender. Nisso já é bom ter-se uns aninhos de groupie para se ver as diferenças e gostar-se delas. O repertório é tão vasto que pode sempre optar por um registo hip-hop, rock, folk, blues, whatever, o que lhe der na telha, pois faz e experimenta tudo. O mesmo se confirma com os concertos, nunca vi um concerto igual ao outro, nem nenhuma música igual a outra. Mas ontem, tudo foi diferente. Não porque tenha tocado mal (isso é coisa que não sabe fazer), ou que o novo álbum não preste (bem pelo contrário) mas porque não era ele. Era outro. O Beck de ontem não falou ou olhou para o público uma única vez, tocava uma música a seguir às outras, abreviava-as, passava directamente para o refrão e encerrava-se a coisa. Sempre espectacularmente bem tocado, a fugir do registo dos álbuns, mas na dele, perdido na floresta da sua nova farta cabeleira, num planeta que arrisco que se chama valium. Não veio com a banda de sempre, veio com outra, que como os outros, e como diria o Pedro, "uns músicos do caraças", e "com uma miúda gira", (esta, Pedro). Não tocou gaita de beiços, não ironizou, e não dançou uma única vez, nem mesmo se viu o seu tique característico de agarrar o microfone com um pulinho, com aqueles pontapés no ar. (como se pode ver no video 2). "Está velho", disse a Tânia, com a sua falta de paciência, apontado-me o óbvio. Nã, nã, nã, nã, digo eu do meu pedestal que até hoje, só perdeu um concerto dele em Portugal. A velhice para Beck, não quer dizer o fim, e os álbuns confirmam-no. Aliás, bem percebi que falta fez o concerto quando lançou o "The Information". E ontem voltou a comprovar que o "Odelay" é um dos melhores discos de sempre, que tocou praticamente de uma ponta à outra, ainda que abreviando - e pecando - no "New Polution" e "Jack-Ass" (e faltou, como sempre, o meu amado "Sissyneck"). E sim, tem direito a estar mal disposto e não estar nos seus dias, apontou o Pedro quando lhe expliquei o meu dilema da noite passada. Tem mais do que direito a um brutal ataque de amuo por ser aquela coisa aberrante do Mica com as suas flores e palhaços horrorosos a ser cabeça de cartaz, e não ele, e estar chateado por não estar no Alive (aliás, que grande cretinice de fazerem dois festivais no mesmo dia) e ter um público estátua, imberbe e estúpido que dizia coisas como "Os Beck", "ah, isto é coisa para tocar na Aula Magna, é muito intimista","Ah já só faltam oito minutos para o Mica vir" (mas vá lá, ofereceram-me estar na grade quando viram que era a única - para além da Vera arrastada - a saber as músicas de cor e a única que saltava e pulava como se não houvesse amanhã).
O som estava uma merda, acho que os técnicos se estavam nas tintas, por sermos só 3 pessoas a ver Beck, 100 a ver Duran Duran (incluindo o José Cid), e 300 a ver Mica. Até o senhores agentes de autoridade ficaram preocupados com o nosso desalento pós-concerto, mas não me apeteceu entrar em grandes conversas. Dei-lhes a morada deste blog para o caso de querem perceber esta minha reflexão beckiana. Até o não haver confusão para sair, nos fez impressão. Mesmo assim fui ao churro, um pouco triste por me lembrar o México e o "Guero" (mas como, como, como me despachou assim o "Girl"?!), mas depois com o quentinho do chocolate voltei a lembrar-me que não falhou no "Black Tambourine" e terminar com o "E-Pro" foi bem esgalhado.
Dia 20 de Setembro, talvez o veja outra vez, e seja esse o meu primeiro concerto californiano, e aí talvez entenda se foi uma coisa do momento, ou se o Beck que eu conhecia, foi desta para melhor.
Videos para a posteridade, ilustrativos do que aqui digo:
Video 1: "Loser", "Devils Haircut", "Black Tambourine" e como era uma multidão rendida aos seus pés.
Video 2: "Devils Haircut", onde se vê bem o tique do agarrar o microne com o pulinho genial.
Video 3: "Sexx Laws", os pulos, o atirar-se para o chão, o falsete.
Video 4: "Debra" para o Beri, minha irmã, que não me abandona e que também delira com o falsete, o drama e o show-man a que este senhor nos habituou.
sexta-feira, julho 11, 2008
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1 comentário:
minha querida irmã, a holandesa voltou! e ainda por cima vibrei com este momento de génio que é o debra...
ohh cridd que reportagem tão fixe e completa :) gosto muito de ler estas coisas :)
bajiinheeeeeeee *v
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