Esbugalhada, com muito gosto

De manhã tive um agradável encontro com o funcionário do Governo-Civil, que embirra com franjas, acha impensável as miúdas de hoje em dia já não andarem com ganchinhos nos bolsos e ter uma malandra de uma franja, que mesmo afastada, teimava ir ter com a sobrancelha. Depois de fazer questão que o penteado fosse o mais feio possível, de me avisar que não poderia mostrar os dentes, que olhasse para a câmara, muito atenta e séria, que isto de atravessar fronteiras é assunto sério, não há cá espaços para sorrisos e penteados de acordo com a época em que vivemos. Mas pouco serviu que a foto revelasse o tal ar muito sério e concentrado, de quem levou à risca as instruções do simpático funcionário do Governo-Civil, balbuciadas em sílabas meias comidas. Mas, segundo o simpático funcionário do Governo-Civil, os olhos não estavam muito bem, porque estavam muito abertos. "Abertos?"! digo eu, "mas eu tenho os olhos grandes!", e "vamos lá fazer isto outra vez, com os olhos abertos mas não tão grandes!", e lá me voltei a concentrar, sem mostrar os dentes, muito direita e com cara de monga, e os olhos, meu Zeus, que raio faço eu aos olhos, e eles continuavam abertos, muito abertos, quase a rezar baixinho para que não saíssem de órbita e assim ficaram, não vendo qualquer diferença quando o simpático funcionário do Governo Civil deu por missão cumprida, após vislumbrar a segunda tentativa. Pergunto-me se a um chinês, já lhe dirá que tem os olhos demasiado fechados.