segunda-feira, fevereiro 15, 2010

A todos, e a nenhum em especial, ou como dizia o parvo do outro, "A Ninguém"*


"- Gosto de ti". Gostas de mim? Gostas de mim?! Mas gostas de mim como?! Como se gosta de fins-de-semana prolongados, ou mais daqueles, em que há ponte, e se falta ao trabalho com gostinho sem culpa? Gostas de mim? Mas gostas como?! Como se gosta de bolas de berlim com creme, como se gosta de ver os traillers no cinema? "- Gosto muito de ti"? Olha, que merda. Gostas muito de mim. Mas que raio quer isso dizer? Que ficas sem ar quando me vês, que gostas de mim tal como eu amo de paixão rissois de carne com arroz de tomate, e de alegremente pedir um croquete ao balcão, mais um bica curta, s.f.f., sabendo que não é sequer uma refeição, mas é daqueles prazeres que vou ter até me cair a dentadura. Gostas de mim? Gostas muito de mim? Mas porquê? Porque digo umas frases, de vez em quando até bem apanhadas, porque sou uma provocadora, porque tenho vaipes? Gostas muito de mim? Mas quanto? O suficiente para apreciares a minha ruguinha que já se instalou no queixo? Gostas mesmo de mim, de quê, de me ouvir falar - mas tu prestas sequer atenção ao que debito? Gostas de mim, porque gostas de dançar comigo, de tomar o pequeno-almoço e ir para onde calha? Gostas de mim porque encolho os ombros, sou uma parva de uma compreensiva, ou porque sou uma cabra destravada, e desapareço de vez em quando? Gostas muito de mim porque é uma forma abstracta de dizer que até sou uma gaja fixe, tu é que estás demasiado ocupado contigo próprio, não é altura para me dares atenção. Gostas de mim, porque um "amo-te" soa foleiro e faz-nos correr a sete pés? Gostas de mim, porque não sabes dizer outra coisa, porque nunca o ouves de volta, porque me percebes mal, não vais arriscar dizer mais que isso? Gostas muito de mim porque eu vivo do outro lado do oceano? Porque assim vais sempre gostar de mim, porque não haverá tempo para que não gostes de mim. Gostas muito de mim, porque não te ocorre o adjectivo, ainda que às vezes, brinquemos com um? Gostas de mim? Olha que porra, não me digas que gostas de mim. Ou que gostas muito de mim. Não me digas coisa nenhuma. Tu não gostas de mim. Tu não gostas muito de mim, nem nunca vais gostar de mim de outra maneira. Por isso fica calado, não me digas mais coisa nenhuma. Obrigada, e agora serve-me um copo de vinho, cala-te e ama-me em silêncio.


(Happy - belated - Valentines Day)

* Ou como resumir a vida trágico-sentimental num parágrafo.

1 comentário:

Anónimo disse...

:)
genial...
mary christy