Há dois dias que não quero acordar. Queria dormir uma semana inteira. Mas tenho uma apresentação sobre genocídio (fun!), papers para escrever e ainda umas tretas atrasadas, que ontem não lhes peguei.
Hoje saí de casa, fugi do computador, vim ler para biblioteca. Estou há três horas a olhar para o pinheiro a abanar. Obviamente que não estou concentrada no que devia ler. Mas não me apetece dizer nada. Só me apetece dormir.
Não sei qual é o adjectivo a usar sobre o número de mensagens virtuais que continuam a chegar. Por um lado, incomoda-me tamanha exposição, por outro, claro que sabe bem o carinho de quem gosto tanto, da mesma maneira que estranho (e ressinto) a ausência de manifestações por parte de outros.
Mas não tenho dito nada, não me apetece falar, perco tempo a reparar em coisas estranhas tais como a minha avó nasceu em 1932 e morre quando eu tenho 32, e de só hoje me ter lembrado como eu gostava tanto daquele molho que ela fazia nuns simples hamburgers, e como não tenho nenhuma ideia como é que isso se faz, e que a minha avó é obcecada com arroz de frango, como o meu pai é com Bolonhesa. E que até sei que ela não estava desapontada que não lhe tivesse dado bisnetos, se calhar, preferia que tivesse antes publicado um livro.
Há dois dias que penso que talvez devesse escrever qualquer coisa, mas não consigo. E ainda não estou a dizer. Estou a olhar para os pinheiros. De vez em quando, faço batota, espreito o que continua a chegar pelos canais virtuais. Estou a digerir, não me apetece falar. Não acredito no céu, nem anjinhos, não rezo, e tendo a torcer o nariz quando me falam em passagens, vida, obra, paz eterna, etc. Egoisticamente nada disso traduz o que sinto por ela, nem do que fomos. De mim e dela, só eu é que sei. Porque acho que tenho uma categoria de estatuto especial (de corrida) só por ter vivido nos Barbadinhos. E tenho, pois tenho, isso não me podem tirar. Mas nem isso consigo balbuciar, e para lhe fazer jus merecia umas linhas menos desconexas e não umas tretas desalinhadas.