terça-feira, março 09, 2010

"Eu quero avançar", "quero avançar!" diz-me ele, com uma convicção profunda. Mas avançar para onde, penso eu, para o fundo do poço, para a imigração clandestina, para o sorteio do green card? Não sei se é dos trinta, ou se é simplesmente isto de viver na diáspora, mas a verdade é que hoje em dia sou capaz de ter vinte amores ao mesmo tempo, e não me decido por nenhum. Sim, há momentos em que penso que se o homem mais bonito que conheço me pedisse em casamento e quisesse um par de gémeos eu aceitava de bom grado, deixando para trás todos os pruridos, porque aqueles dois metros, aquela covinha no queixo, a sobrancelha esquerda despenteada, mais os passeios de vespa (digna substituta do animal extinto), o humor pós-modernista, não se encontram todos os dias, são qualquer coisa que me enchem a alma, o corpo e a mente. Mas histórias de amor-cor-de-rosa, sem espinhos, de linearidade singular, já sabe, nunca foi o meu filme, e aqui não é mesmo o caso. E depois há o outro, paixão estranha e magnética de algum tempo, que não tem metade das complicações que eu tenho, nem medo de assumir que quer isto, e não aquilo, e consegue chamar-me à terra, quando eu tendo a deambular pelo Pacífico, ou pelo Bairro Alto, e se me deixasse, certamente já estava mais para os lados do Índico. Mas ele vive do outro lado do mundo, e quer avançar, "tem planos". Está disposto "a tentar", WTF?  Mas porque é que homens destes só nos saem na rifa, quando não estamos emocionalmente para aí viradas? Ou será a minha indisponibilidade geográfica que de repente faz com que tenha um amor em cada porto e ser uma cínica de primeira? É curioso, sempre achei que o poliamor fosse algo mais interessante.

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