Sim, e sim, mas, e um grande mas, um dia entra-nos pela vida a dentro, sem pedir licença, pede-nos um beijo no portão, e ouve um sentido ultrajado “mas tu deves é estar doido!”, mas acaba por levar um de volta, e mais outro e outro, e passam não sei quantos meses, como se fosse ontem, já nem damos conta, e um dia destes faz as malas, tem que ir para o meio do nada. De repente, a casa (que já não tenho) está vazia, já não tem piada queimar as empadas de cogumelos, nem o netflix – pois a semi querela habitual em tentar decidir o que se vê, agora é só comigo – nem amaldiçoar o doutoramento, ou dominar o rádio no carro, e escolher sempre a mesma a musica de Beirut, mais os LCD Soundsystem (“- é só mais esta, juro”), e ir ao mercado mexicano, ao Farmers Market, e ir ao World Market e ficar o tempo todo que eu lá quiser, sem culpas, deixa de ter piada, deixa de ter sentido, e o raio da autonomia adquirida que se trabalhou anos a fio, ficou num canto qualquer, e já sei não sei onde está. E encolho os ombros, tento não pensar nisso, "baby steps, baby steps”, dizem os gringos, e repito eu, ‘bora lá, vamos lá acabar o que tens para fazer, vamos lá para Buenos Aires e São Paulo, e depois Lisboa, e depois quem sabe, talvez, e finalmente – Lusaka - , só por um bocadinho, e já não é nada mau. Até lá tento não pensar que os telemóveis na Zâmbia são uma merda, que quando ligas só oiço galinhas, e não percebo metade do que dizes, e que parvos são aqueles que acham que vivemos numa “aldeia global”, e que de pouco ou nada adianta mandar-te mails, mais vale mandar postais, que demoram três, quatro semanas a chegar. Amor? Relações? Pff, não é para todos. E como sempre, não sei como é que meti nesta. Ou como saio desta. Só sei que não quero sair. Mas não faço ideia como se aguenta uma destas. 

O amor é estúpido, é mesmo um devaneio estúpido. 




Adenda: irra, que esta demorou-me a sair, mas saiu. At last.