terça-feira, abril 28, 2015



Ainda há poucos dias mencionava como não reconhecia como uma das bloggers dos blogs do costume, foi mais uma a publicitar uma campanha tolinha no 25 de Abril, até que ontem, deu de si e voltou à sua velha forma, a propósito disto.

A rainha dos blogues também teve que se juntar à discussão, mas toca de cascar na amiga, afirmando que outra coisa não seria de esperar, porque a sua amiga é uma indignada, logo não lhe dêem crédito. Em seguida faz um enxovalhado de futilidades a dizer como está farta de falsos moralismos, sempre se usou mulheres magras em publicidade, qual é novidade, acha ela, não há motivo para tanta indignação, e porque é que se perde tempo com isto. Faz isto num enorme testamento moralista e indignado sobre as tais indignadas moralistas que não acharam graça à publicidade. Daqui passa para o binário gordas vs. magras, criando o manifesto obesofóbico: é se gordo porque se quer, e se não se sentem bem, não se queixem, não usem biquíni.

Reduzir a onda de protestos a esta publicidade infeliz ao facto de ser banal, é não estar nem aí para a eterna objectificação do corpo da mulher, nem para o facto de sermos constantemente bombardeadas como estereótipos de ideais de beleza feminina. Não é que me espante que seja essa a sua atitude, quem conhece o seu blogue, sabe o que é, e há muito que a rainha dos blogues mostra uma certa condescendência para com o feminismo, e sabemos como é adepta de ser e vender exactamente essa imagem de mulher magra, loira, de sorriso na cara e de bem com a vida. Como se ser mulher fosse um anúncio de pensos higiénicos ou de iogurtes magros. Ultimamente, adicionou a esse tipo de mulher, essa coisa de viver saudável. "Comer sem asneiras", e claro correr, correr, correr. Eu acho que cada um faz o que quer para se sentir bem, mas a filosofia de vida de uns não quer dizer que seja a certa, e a única moral para o universo inteiro.

O que me incomoda nesta história é a leviandade com que o assunto é tratado, e como acaba por recair numa atitude de repúdio aos gordos do planeta. Acho sobretudo irónico que resuma a discussão entre magros (=saudáveis) e entre gordos (=desleixados e não saudáveis), mas para quem tanto preza a suposta vida saudável, faltou então que nos explicasse como é que comprimidos podem ser uma forma saudável de perder peso. A filosofia de vida saudável da rainha dos blogues lusos está assim um pouco como o Dr. Oz e a medicina.

Por fim, também não deu importância a como a marca em questão resolveu lidar com os comentários, respondendo quase sempre de forma ofensiva e sexista. Já empresas como a Modcloth, que é um site de venda de roupa online, aqui nos Estados Unidos, têm uma visão estratégica completamente diferente e bem mais inclusiva. Tem modelos de todos os tamanhos e feitios nas suas fotos, incluindo biquínis, e tem como política de venda, em que os clientes, quando fazem reviews, boas ou más, possam submeter as suas próprias fotos com a roupa que compraram. Devo dizer, que a decisão de comprar determinados trapinhos  é muito mais fácil quando os vemos em corpos de pessoas reais, e com comentários que percebemos bem. ("Adoro o vestido, disfarça a barriga!"; "Não é o ideal para quem tem peito grande, devolvi"). E há pelo menos uns quatro anos, que vejo a Rye, submeter as suas fotos com vestidos sem nunca terem sido retiradas (ou enxovalhadas) do site. E não tenho dúvidas nenhumas, que é por isso que a Modcloth tem sucesso, porque dirige o seu marketing para corpos reais. Tomara termos muitos mais exemplos como este, mas uma coisa é certa enquanto nos continuarmos a calar sobre esta banalidade de campanhas parvas, pouco ou nada muda.

E  neste caso, já deu resultado. Os cartazes do Beach Body acabaram por ser retirados do metro de Londres.


1 comentário:

Vanita disse...

Toda a razão: a começar na maldade de desqualificar a opinião da "amiga" - com amigos assim... - passando pelo tal binário magras vs. gordas e acabando no discurso vazio mas cheio de verborreia adoptado pelo marido, tudo aquilo era um vómito. Sem falar, claro, na questão essencial do corpo da mulher e de se ter uma atitude/relacção saudável com o mesmo.